Como educar para a igualdade desde a infância: reflexões sobre a paternidade igualitária
As crianças que crescem em lares onde os progenitores dividem as responsabilidades laborais e familiares, respeitando-se mutuamente, têm maiores chances de reproduzir relações equitativas na vida adulta.
- Incentivar jogos, brinquedos e livros não sexistas, que não segreguem e categorizem espaços, temas, atividades e papéis para meninos e meninas.
- Assegurar que tanto meninos como meninas aprendam e gradualmente assumam responsabilidades relativas ao cuidado, à organização e à limpeza, além de tomar decisões, liderar iniciativas, expressar opiniões e resolver problemas apropriados para a sua idade. Opor-se a qualquer piada sexista, comentário pejorativo ou que reforce papéis estereotipados de gênero. Isso inclui, por exemplo, perguntar a um menino de quatro anos quantas namoradas ele tem. Rir dele porque tem medo. Ou criticar uma menina porque se mostra dominante, expressa suas opiniões energicamente ou não se preocupa com a aparência.
- Oferecer oportunidades para que as meninas assumam riscos e realizem atividades físicas (trepar, rastejar, fazer equilíbrio), embora possam estar fora de sua zona de conforto, pois essas atividades ajudam no desenvolvimento de destrezas físicas, confiança e autoeficácia para enfrentar desafios e novas situações.
- Nunca superproteger as meninas e insistir que tenham cuidado – ao invés de incentivá-las a superar o temor e desenvolver coragem, como é feito com os meninos –, pois existe a ideia de que são frágeis, faz com que evitem atividades fora de sua área de comodidade e não as preparem para ser protagonistas de sua vida.
A paternidade ativa é um antídoto contra o machismo
Para alcançar uma igualdade real entre mulheres e homens, as relações de igualdade no âmbito familiar são imprescindíveis e para tornar isso possível, os homens tem de assumir a parte que os cabe, contribuindo para a consolidação de uma nova forma coletiva de entender e exercer a paternidade, radicalmente associada ao assumir plena e equitativamente a responsabilidade que os toca em todas as fases e trabalhos inerentes ao processo de criação dos filhos.
Corresponsabilidade. Para conseguir isso, parece essencial ressignificar a paternidade, como um conjunto de práticas e ações por meio das quais os homens cultivam e mobilizam todas as capacidades humanas, bem como o potencial biopsicológico para exercer e praticar os cuidados.
Não se trata, portanto, de ser um pai executor de tarefas complementares e auxiliares em relação à figura materna, mas de, com base na capacidade plena, no comprometimento e na consciência dos privilégios, ser capaz de estabelecer pactos de convivência equitativos, conscientes e negociados com suas parceiras.
A relação emocional que alguns homens hoje mantêm com seus filhos e filhas marcaria uma verdadeira mudança intergeracional, profunda e permanente, uma vez que “para manter sua autoridade, os pais patriarcais tinham de manter distância dos filhos, já que se pensava que a proximidade ameaçava seu status. Essa distância, que às vezes se transformava em prova de masculinidade, frequentemente os impedia de se relacionarem emocionalmente com seus filhos” Dessa forma, a autoridade, no modelo da masculinidade hegemônica, seria obtida ao preço de rejeitar o envolvimento emocional. Isso significa que “os pais estavam ‘na’ família, mas não faziam parte dela”. Por tudo isso, a proximidade e o compromisso emocionais seriam duas das características distintivas tanto da paternidade comprometida quanto da mudança geracional em direção a modelos identitários e práticas mais equitativas.
A paternidade igualitária vale a pena em todos os aspectos.
Uma paternidade igualitária, presente, comprometida e equitativa é um dos fatores mais poderosos da transgressão e transformação de papéis sociais culturalmente atribuídos aos homens, que incide diretamente no empoderamento das mulheres e apresenta vantagens que são empiricamente verificáveis para as meninas, os meninos e as companheiras que vivem com esses homens.
A paternidade positiva é um fator de saúde, pois ajuda as filhas e os filhos a crescerem mais saudáveis. Já se constatou que a participação do pai afeta os filhos e as filhas tanto como a da mãe. Por outro lado, a paternidade positiva implica o desenvolvimento de relações de afeto seguras, que incidem diretamente no melhor desempenho escolar, com impacto no desenvolvimento emocional ótimo de meninas e meninos.
Um dos efeitos mais positivos é encontrado no fato de que a paternidade igualitária contribui para o empoderamento das mulheres e das meninas, já que, quando são corresponsáveis pelos cuidados e tarefas domésticas, os homens apoiam a participação das mulheres na força de trabalho e a igualdade das mulheres em geral. Ao mesmo tempo, o compromisso dos pais com uma paternidade presente contribui para diminuir tanto a violência contra as mulheres, quanto a que é exercida por homens contra meninas e meninos.
Além disso, a paternidade ativa torna os homens mais felizes e saudáveis. Os pais que se apegam de forma mais positiva a seus filhos e filhas afirmam que esse relacionamento é uma das razões mais importantes para seu bem-estar e felicidade.
Alguns estudos apontam, ainda, que os pais que têm uma relação próxima e sem violência com seus filhos e filhas vivem mais, têm menos problemas de saúde mental ou física, são menos propensos a abusar de drogas ou álcool, são mais produtivos no trabalho, experimentam menos estresse, têm menos acidentes e dizem sentir-se mais felizes do que pais que não têm esse tipo de relação com seus filhos e filhas.